O DIASP | O Seguro Como Instrumento de Dignidade Social

Por Nicholas Maciel Merlone

Publicado originalmente no Jornal O DIASP (Veja aqui!)


Quando Maria acordou naquela terça-feira e encontrou sua pequena padaria destruída por um incêndio, não imaginava que voltaria a abrir as portas em menos de dois meses. O seguro empresarial contratado meses antes, tendo sido incentivada a contratar por um corretor persistente, transformou o que seria falência em recomeço. Esta história, longe de ser isolada, revela uma verdade urgente: o seguro não é luxo. Pelo contrário, consiste em uma estrutura de sobrevivência.

O mercado brasileiro de seguros gerais movimenta bilhões anualmente, mas ainda patina em penetração social. Enquanto países desenvolvidos apresentam taxas acima de 8% do PIB em prêmios de seguro, o Brasil mal ultrapassa 3%. A distância não é apenas numérica — é cultural, educacional e, sobretudo, de acesso à informação qualificada.

Os seguros gerais abrangem desde proteção patrimonial básica (residencial, automóvel) até coberturas empresariais complexas (responsabilidade civil, riscos de engenharia, transporte de cargas). Cada modalidade representa um pilar de estabilidade econômica e social. O trabalho de corretores, reguladores e educadores financeiros tem sido fundamental nessa construção — profissionais que traduzem apólices herméticas em linguagem acessível e levam proteção onde o mercado ainda não chegou.

A pandemia escancarou nossa fragilidade. Empresas fecharam, famílias perderam renda, patrimônios se dissolveram. Quem tinha seguro respirou diferente — não sem dor, mas com possibilidade de reorganização. A diferença entre falência e reconstrução muitas vezes está numa apólice cujo valor mensal equivale a jantares que esquecemos no dia seguinte.

Precisamos desmistificar o seguro. Não é aposta contra o azar, é gestão de risco. Não é custo desnecessário, é investimento em continuidade. Não é produto para ricos, é ferramenta de proteção democrática — desde que acessível e compreensível.

Maria reabriu sua padaria e virou, sem querer, porta-voz de uma causa nacional. Mas histórias como a dela ainda são exceção. É urgente um pacto amplo pela cultura do seguro no Brasil.

Nesse sentido, proponho que a SUSEP, CNseg, entidades de classe, universidades e governos estaduais construam um programa nacional de educação securitária nas escolas públicas e incubadoras de negócios. Uma iniciativa simples: incluir noções básicas de gestão de risco e proteção patrimonial nos currículos de empreendedorismo e educação financeira já existentes. Paralelamente, criar balcões de orientação gratuita em Sebrae, prefeituras e associações comerciais — pontos de esclarecimento sem compromisso de venda, apenas informação qualificada.

Igualmente, convido autoridades regulatórias, parlamentares e lideranças setoriais a um debate público sobre a democratização do acesso ao seguro. Não se trata de expandir um mercado por expandir, mas de construir uma sociedade mais resiliente. O seguro não evita tragédias, mas transforma seu significado: converte caos em planejamento, desespero em solução, fim em recomeço.

Finalmente, ampliar a cultura securitária no Brasil é sinônimo de construir um futuro menos vulnerável. E isso começa agora, com informação clara, acesso facilitado e compromisso coletivo em fazer a diferença real na vida de quem mais precisa.

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