Publicado originalmente no Jornal O DIASP (veja aqui!)
Há algo de profundamente reconfortante em assistir a "Bar Doce Lar", o filme de George Clooney disponível no Amazon Prime Video. Não pela originalidade da história — porque, sejamos honestos, já vimos variações dela antes. Mas pela maneira como consegue transformar um clichê em algo tão humano, tão verdadeiro, que você esquece de estar diante de uma fórmula conhecida.
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| Divulgação |
A estória é simples: um menino (vivenciado primeiro por Daniel Ranieri, e posteriormente por Tye Sheridan) abandonado pelo pai encontra refúgio no bar (chamado de Charles Dickens - empoeirado, repleto de livros e regado a bebidas) do tio (Ben Affleck) e, entre conversas de boteco e goles de sabedoria popular, aprende a sonhar grande. J.R., de nove anos, se muda para a casa do avô (Christopher Lloyd, o emblemático Doc Brown - De Volta para o Futuro) em Long Island e encontra no tio Charlie, bartender carismático, e nos clientes do bar, suas verdadeiras figuras paternas. O roteiro, adaptado das memórias do jornalista vencedor do Pulitzer, J.R. Moehringer, equilibra com maestria o peso do abandono e a leveza do acolhimento.
Ben Affleck rouba a cena como o tio Charlie. Não pela pirotecnia dramática, mas pela simplicidade generosa de quem já viveu o suficiente para saber que nem toda lição precisa vir com sermão. Affleck entrega um personagem que é porto seguro e provocador ao mesmo tempo — uma contradição humana que funciona exatamente por isso.
O que torna "Bar Doce Lar" especial não são seus acertos técnicos, mas sua generosidade emocional. O filme entende que crescer é, muitas vezes, encontrar família em lugares improváveis. Que pai não é quem gera, mas quem fica. E que sonhos são cultivados não em grandes discursos inspiradores, mas nas pequenas conversas do dia a dia, entre um copo e outro, com o barulho de fundo de gente vivendo.
Depois, quando J.R. vai para Yale, se envolve em um romance. Sim, falta ousadia. Mas, há uma certa pitada cômica. Em seu trajeto até a faculdade, conversa com um padre no trem. Ao se formar, o jovem procura se tornar escritor e, em Nova Iorque, busca uma vaga de repórter no The New York Times.
Com efeito, o filme tem uma honestidade que desarma. Clooney não tenta reinventar a roda — ele apenas a faz rodar com suavidade, lubrificada por aquela nostalgia boa, a que não dói. "Bar Doce Lar" não é um filme perfeito, mas é um filme necessário. Num mundo tão barulhento, incerto e apressado, ele nos lembra que às vezes basta sentar no balcão, pedir uma bebida, ouvir uma boa estória e deixar a vida ensinar, o que se encaixa perfeitamente com a trilha sonora do filme, que envolve e contagia.

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